Santiago, no Chile, é a primeira cidade fora do Brasil a receber uma exposição itinerante da 34ª Bienal de São Paulo – Faz escuro mas eu canto, marcando, também, a primeira vez que o programa de mostras itinerantes chega ao país. Com abertura no dia 1º de outubro, no Centro Nacional de Arte Contemporáneo Cerrillos, a exposição foi viabilizada por meio da parceria entre a Fundação Bienal de São Paulo e o Ministério das Culturas, das Artes e do Patrimônio do Chile. A entrada é gratuita e a visitação segue até 27 de novembro.
O enunciado Cantos Tikmũ’ũn é o fio condutor da mostra, e serve de contraponto poético e catalisador simbólico para um conjunto de obras que têm entre seus disparadores uma reflexão sobre a floresta como ecossistema a ser protegido, respeitado e temido.
Sob essa premissa, artistas chilenos prepararam intervenções especiais: Seba Calfuqueo realiza uma performance na abertura da exposição e Alfredo Jaar apresenta uma nova edição de sua obra Chiaroscuro (2021), com outras cores e traduzida para o espanhol. A mostra é composta por trabalhos de treze artistas de nove diferentes países: Adrián Balseca (Equador), Alfredo Jaar (Chile), Alice Shintani (Brasil), Frida Orupabo (Noruega), Gala Porras-Kim (Colômbia), Gustavo Caboco (Brasil), Hanni Kamaly (Noruega), Jaider Esbell (Brasil), Joan Jonas (EUA), León Ferrari (Argentina), Noa Eshkol (Palestina), Seba Calfuqueo (Chile) e Victor Anicet (Martinica).
Sobre o enunciado Cantos Tikmũ’ũn
Os Tikmũ’ũn, também conhecidos como Maxakali, são um povo indígena originário de uma região compreendida entre os atuais estados de Minas Gerais, Bahia e Espírito Santo. Após inúmeros episódios de violências e abusos, os Tikmũ’ũn chegaram a beirar a extinção nos anos 1940 e foram forçados a abandonar suas terras ancestrais para sobreviver. Os cantos organizam a vida nas aldeias, constituindo quase um índice de todos os elementos que estão presentes em seu cotidiano – plantas, animais, lugares, objetos, saberes – e envolvendo sua rica cosmologia. Grande parte desses cantos, muitas vezes destinados à cura, é executada coletivamente. O ato de cantar se torna, entre os Tikmũ’ũn, parte integral da vida, porque é através do canto que se preservam as memórias e se constitui a comunidade. Cada membro da aldeia é depositário de uma parte dos cantos, que por sua vez pertence a um espírito – chamado Yãmîy, palavra que também designa os cantos –, convocado e alimentado durante o canto ritual. Todos os cantos, juntos, compõem o universo tikmũ’ũn, que é constituído por tudo que esse povo vê, toca, colhe, come, mata e sente, mas também pela memória de plantas e animais que não existem mais, ou que ficaram nos lugares de onde os Tikmũ’ũn tiveram que fugir para sobreviver. Como comunidade, vivem na língua que ainda praticam e defendem vigorosamente. Cantando.
Serviço
34ª Bienal de São Paulo - Faz escuro mas eu canto
Programa de mostras itinerantes
Centro Nacional de Arte Contemporáneo Cerrillos
Santiago (Chile)
1 de outubro – 27 de novembro 2022
Av. Pedro Aguirre Cerda, 6100, Cerrillos – Santiago
terça – domingo, 10h – 17h
entrada gratuita