Hanni Kamaly (1988, Hamar, Noruega. Vive em Estocolmo, Suécia) desenvolve filmes, performances e publicações, nos quais investiga como paradigmas coloniais – e seus resíduos – podem ser encontrados em monumentos públicos, discursos científicos e coleções de museus. A prática de Kamaly, baseada em pesquisa, concentra-se especificamente nos limites entre objeto e sujeito, a presença do corpo humano e seus mecanismos de representação e de controle. A alienação do sujeito e a persistência de modelos coloniais convergem em obras que examinam a exposição museológica dos restos humanos ou a interpretação artística de máscaras ritualísticas.
Os filmes de Kamaly são viagens nas quais embarcamos voluntariamente, levados pelo tom de voz que conecta as imagens mostradas com as coisas que já conhecemos, e com outras que nos surpreendem. A paisagem é familiar e ao mesmo tempo estranha, e viajamos como se estivéssemos em pistas – há uma constância no ritmo em que as coisas são reunidas. Às vezes, os vínculos são inicialmente visuais, e a conexão feita por nossos olhos é então explorada por um narrador paciente. Em outros momentos, é o discurso lógico que costura os fragmentos de imagens apropriadas que continuam a fluir. Outras vezes, objetos bem conhecidos e fotografias icônicas; outras, ainda, realidades imprevistas, ângulos desconhecidos, exemplos extremos de uma história que ainda precisa ser contada.
A Bienal apresentará também outro segmento da produção de Kamaly, que consiste em esculturas que poderiam ser chamadas de abstratas. Sempre intituladas em homenagem a uma pessoa que foi vítima de violência estatal, essas esculturas são monumentos silenciosos. Feitas de tubos de metal, elas são pura estrutura: ossos, articulações, ligamentos; nada poderia ser removido delas. Parafusos e marcas de solda são todos aparentes, revelando os mecanismos de construção das esculturas. Como criaturas alienígenas ou futuristas, elas se postam em pernas finas, quase suspensas, como se ainda estivessem incertas de querer pertencer a este tempo e lugar. Elas parecem nos observar sob tensão, frágeis e ferozes, enquanto olhamos para as formas definidas de metal frio e nos lembramos de histórias que precisam ser contadas.
Apoio: Nordic Culture Fund, Office for Contemporary Art Norway (OCA) e Iaspis – the Swedish Arts Grants Committee's International Programme for Visual and Applied Artists
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Caroline A. Jones, Eyesight Alone: Clement Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
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Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).