Faixa 3: Seba Calfuqueo

22 Sep 2021
Seba Calfuqueo, Alka Domo, 2017. Performance em vídeo, 17’. © Levi Fanan /Fundação Bienal de São Paulo

Agora chegamos à videoperformance Alka Domo, de Seba Calfuqueo, artista do Chile de origem Mapuche. A obra foi produzida em 2017 e tem duração de 17 minutos. 

Calfuqueo é jovem, de pele clara e cabelos lisos e negros. Na maior parte do vídeo, aparece vestindo calça e camiseta preta. Com essas roupas, chega caminhando, sem sapatos, a diferentes lugares: uma praça com esculturas, prédios históricos, um mercado. 

Em cada um desses lugares, calça um sapato de salto alto. A cada vez, os sapatos têm cores diferentes e vibrantes que contrastam com as roupas escuras. 

E, em cada locação, seus atos se repetem: calça os sapatos, em seguida se inclina e recolhe do chão um tronco de Coihue, uma madeira ancestral do sul do Chile, e o coloca no ombro, suportando seu peso com algum esforço. 

O objeto que carrega nas costas, e que está na exposição, é um tronco oco com quase dois metros de comprimento, e seu processo de confecção é mostrado no início do vídeo. 

Enquanto declama um poema, Calfuqueo manipula a goiva, o martelo e uma serra elétrica, abrindo espaço no interior da madeira, deixando-a oca. Em castelhano, "oco" se diz “hueco”. E, no Chile, essa palavra também designa, de forma depreciativa, identidades que escapam à heterossexualidade.

Os lugares escolhidos para a performance simbolizam a história oficial sobre os Mapuche no Chile. Calfuqueo os escolheu para problematizar a complexa interação entre a população indígena e a chilena.

Com elementos que simbolizam tanto sua ascendência indígena quanto sua dissidência dos padrões heteronormativos vigentes, Calfuqueo evidencia o cruzamento e a sobreposição de dominações e repressões a que seu corpo está submetido. 

Instiga, assim, uma reflexão sobre o status social, cultural e político do povo e da cultura Mapuche na sociedade chilena contemporânea. 

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