Gala Porras-Kim (1984, Bogotá, Colômbia) investiga os contextos políticos, sociais, econômicos e espirituais que determinaram o valor dos objetos durante a história do colonialismo. Seu interesse centra-se em restos humanos e bens materiais e imateriais de culturas indígenas, convertidos em trunfos culturais sob a salvaguarda da supremacia política e intelectual do Ocidente. A artista analisa desde os violentos processos de extração e circulação desses objetos, até as metodologias de armazenamento e classificação pelos colecionadores e/ ou instituições culturais que os recebem, especialmente os museus de antropologia e história.
Porras-Kim busca reverter tanto a linguagem quanto as operações de poder que impõem uma forma unilateral de conhecimento e de escrita da história. Ela explora, por exemplo, como os métodos empregados pelos museus para definir o valor físico e espiritual de certos artefatos podem estar em conflito com seu verdadeiro significado, suas intenções e a identidade das culturas que os produziram. Seus processos de pesquisa vão além da representação simbólica dos artefatos, e envolvem as próprias instituições de onde provêm os acervos e/ou objetos de estudo. Sua ideia é expor e, por vezes, desmascarar as manipulações que as políticas de aquisição e mecenato de bens culturais têm instituído, buscando estabelecer novos paradigmas legislativos que promovam a equidade entre culturas e formas de conhecimento.
Em WaLT (Whistling and Language Transfiguration) [Assobios e transfiguração da linguagem] (2012), Porras-Kim investiga a possibilidade de tradução de uma língua minoritária, o Zapoteca, e as implicações políticas e linguísticas de sua representação. A língua, de tradição oral e originária da região de Oaxaca, no México, é de natureza tonal, ou seja, seus significados estão parcialmente contidos na entonação da fala, em sua musicalidade. Por isso, ela pode ser reproduzida por meio de assobios – estratégia que foi utilizada pelos povos indígenas zapotecas para que os espanhóis não pudessem decodificar suas mensagens. WaLT consiste em uma instalação composta por um disco de vinil com a tradução direta da língua falada em assobios, uma partitura que transcreve os assobios em notas musicais e uma espécie de manual linguístico para ajudar a marcar variações verbais na tradução gravada. Hoje, o zapoteca corre o risco de extinção, dada a falta de atenção de sucessivos governos mexicanos à preservação e ao fortalecimento das culturas originais do país. WaLT parte do zapoteca tonal como mensagem codificada, que permanece oculta e igualmente presente, resistindo ao domínio da linguagem imposto pela colônia séculos atrás.
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Caroline A. Jones, Eyesight Alone: Clement Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
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Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).