Joan Jonas (1936, Nova York, EUA) é uma artista pioneira da videoarte e da performance. Nos anos 1960, atuando frequentemente em sintonia e colaboração com artistas, músicos e performers da cena nova-iorquina como Yvonne Rainer, Debora Hay, Richard Serra, Robert Smithson, La Monte Young, e Philip Glass, entre outros, Jonas desenvolveu um estilo único, no cruzamento entre performance, desenho, ação e vídeo, no qual podem confluir elementos místicos ou ritualísticos e onde se misturam gestos teatrais, coreografados e do cotidiano. No filme Wind [Vento], por exemplo, registro de uma ação realizada na praia de Long Island em um dos dias mais frios de 1968, Jonas mostra os esforços de um grupo de performers para executar uma coreografia apesar da baixa temperatura e, principalmente, do forte vento. Em uma combinação de movimentos ora banais ora enigmáticos, que transitam entre coreografia, cerimônia e improvisação, os dançarinos lutam contra o vento, que se impõe violentamente sobre os seus corpos.
Wind é parte de uma série de performances realizadas no final dos anos 1960 em espaços externos – naturais, como neste caso, ou também industriais – nos quais Jonas introduz o uso de espelhos, máscaras e outros adereços. Por meio do uso do espelho, em particular, Jonas iniciou já nessa época a prática de criar duplos e personagens que podem ser consideradas autênticos alter-egos. Não se trata, contudo, de um trabalho autobiográfico, mas da criação de ficções míticas e poéticas, nas quais as personagens podem circular de um lado para o outro da realidade e da ficção por meio de espelhos, monitores ou projeções. De fato, desde o começo da sua carreira, a artista incorporou em seu trabalho câmeras e projetores de vídeo, com amplo uso de circuitos fechados, criando sobreposições e desdobramentos imagéticos para que o tempo real da performance se choque com o tempo da imagem filmada. Nas décadas seguinte e até hoje, Jonas seguiu experimentando com a sobreposição de camadas de tempo descontínuas, multiplicando as imagens em planos narrativos combinados e por vezes antitéticos, dando vida a grandes instalações imersivas. O desenho continua sendo um elemento central na maioria dessas performances/instalações, sendo os animais o seu tema mais recorrente. Se por um lado a presença dos animais reforça uma relação quase mística com a natureza, como no caso dos Snake Drawings [Desenhos cobra] incluídos na 34ª Bienal, ela também reflete o envolvimento ambientalista da artista, que nos últimos anos tem se engajado ativamente, em particular, em prol da salvaguarda dos oceanos.
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Caroline A. Jones, Eyesight Alone: Clement Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
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Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).