Arjan Martins (1960, Rio de Janeiro, RJ, Brasil) constrói cenas do passado e do presente impregnadas de memórias pessoais e coletivas. Seus anos de formação artística – cujo tempo Martins compartilhou com diversos empregos paralelos, foram marcados pela experimentação de diversas linguagens, da instalação à performance. Foi o desenho, entretanto, sua primeira ferramenta recorrente, com a qual montava e desmontava elementos de um manual de anatomia humana – primeiramente sobre papel, e logo em seguida sobre paredes e muros. As linhas de seus desenhos associaram-se à grafia de palavras e sinais, e a referência ao interior do corpo deslocou-se para o estudo de cartografias que mapeiam memórias atávicas. A partir de então, Arjan Martins aprofundou sua relação com a prática pictórica.
Vivendo no bairro carioca de Santa Teresa, o artista traz a suas telas personagens contemporâneos e históricos, muitas vezes posicionados diante de representações do oceano Atlântico. Com a alternância de áreas mais e menos detalhadas, chegando a deixar aparente a superfície do tecido da tela, suas cartografias e imagens marítimas remetem, invariavelmente, aos fluxos e refluxos da travessia iniciada com a perversa formação do “triângulo do Atlântico” e que alimentou a economia escravagista entre Europa, África e Américas. Arjan Martins coloca em cena, portanto, a diáspora negra da qual ele próprio faz parte, não apenas por suas origens, mas também por buscar oportunidades para viajar aos continentes que compõem essa história. Em suas pinturas, o artista recombina signos encontrados em latitudes e longitudes diversas – como a silhueta de uma montanha da baía de Guanabara, a estrutura de uma embarcação britânica do século 19 e o rosto enigmático de uma garota fotografada em Nova York na década de 1960 – os quais podem com frequência coabitar o mesmo espaço pictórico.
-
Caroline A. Jones, Eyesight Alone: Clement Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
-
Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).