E.B. Itso

E.B. Itso (1977, Copenhague, Dinamarca) interessa-se pelos entremeios, as frestas ocultas e margens invisíveis que nos permitem viver incógnitos. Ele procura por esses pontos cegos no sistema – lacunas não calculadas, áreas não controladas – onde é possível existir sem se tornar mais uma engrenagem na maquinaria, sem contribuir para a cadeia de movimentos involuntários que continua a conduzir o mundo a uma direção que, cada vez mais, sabemos estar errada.

O que vemos são fotografias, filmes e, por vezes, reconstruções parciais de espaços que não pudemos visitar. Vemos os registros de ações que precisaram ser invisíveis para se fazerem possíveis, ações que só poderiam ocorrer nas raias da lei, logo além dos espaços que mapeamos para habitar e do comportamento social com o qual concordamos tacitamente. De uma habitação construída clandestinamente dentro da Estação Central de Copenhague, a um vagão que viaja até o fim da linha, e além.

Na 34ª Bienal, E.B. Itso mostrará uma série de fotografias que documentam janelas sendo lacradas com madeira. Elas podem ser vistas como uma construção da escuridão, um tipo de geometria sólida desenhando áreas de luz cada vez menores. As fotos foram tiradas de dentro de um prédio ocupado, registrando em intervalos o escudo de madeira na medida em que é construído pelos moradores, a fim de manter a polícia afastada. A escolha de não ver a luz do dia, a escolha de ficar confinado é aqui um meio de estar protegido. Algo entre um abrigo e uma barricada.

O segundo trabalho de E.B. Itso nesta Bienal, Carl August Lorentzen's Escape [A Fuga de Carl August Lorentzen], é uma instalação que reconstrói os principais elementos de uma cela que foi ocupada pelo lendário ladrão dinamarquês. Em um banco que reproduz aquele em que Lorentzen dormia enquanto estava encarcerado, ao lado de um cobertor como o que ele usava para se aquecer, vemos um monitor. O vídeo reproduzido foi feito pela polícia na tentativa de reconstituir sua quase impossível fuga da Prisão Estadual de Horsens na véspera do Natal de 1949, usando colheres comuns, nas quais forjou cópias de chaves, e com as quais também cavou seu caminho para fora da cela.      

Se A Fuga de Carl August Lorentzen diz respeito à procura e à construção de uma saída que não deveria existir, a série fotográfica We Resist Therefore We Exist [Resistimos, logo, existimos] registra a construção de barreiras que, ao fecharem os caminhos, nos permitem permanecer em propriedades em que não deveríamos entrar. Duas formas de compreender o espaço e o trânsito em relação às estruturas de poder, encontrando estratégias para navegar e habitar as fissuras que sempre subsistem.

Apoio: Nordic Culture Fund, Danish Arts Foundation e Iaspis – the Swedish Arts Grants Committee's International Programme for Visual and Applied Artists