Marissa Lee Benedict (1985, Palm Springs, Califórnia, EUA) e David Rueter (1978, Ann Arbor, Michigan) iniciam sua colaboração artística em 2014 com a realização da videoinstalação Dark Fiber [Fibra escura] (2014-2019). A dupla trabalha com pesquisas históricas, técnicas e materiais a partir de processos industriais e de instalações infraestruturais de grande escala. Diante dos mecanismos de reprodução do capital em uma escala global, os artistas investigam as linguagens e diagramas abstratos produzidos por diversos campos de conhecimento, tais como engenharia, gestão de risco, agrimensura e arquitetura. Em Dark Fiber assistimos os artistas enterrando, puxando e cortando um único cabo de fibra óptica na sombra de grandes obras de infraestrutura, como o muro da fronteira entre os Estados Unidos e o México, de refinarias de petróleo na área de Chicago e de um canal de navegação da Antuérpia. No jargão da indústria de telecomunicações, “fibra escura” é um termo para os cabos de fibra óptica não utilizados ou “não ligados”. Em 2014, adicionar alguns fios latentes a uma implantação de fibra ótica custava pouco, de modo que as empresas de telecomunicações frequentemente optaram por superdimensionar tal infraestrutura em antecipação à demanda futura. No entanto, a demanda por capacidade física tornou-se, em muitos casos, supérflua, tendo em vista os avanços tecnológicos que aumentaram a quantidade de informação transmitida por ondas eletromagnéticas. O cabo latente, agora excedente, tornou-se uma oportunidade imobiliária para empresas privadas que alugam essa fibra não utilizada para criar suas próprias redes exclusivas. Dark Fiber se refere aos fios e ao fluxo de informações que operam nas sombras da internet pública.
Em 2018, a dupla de artistas, junto com Daniel de Paula, resgataram da Chicago Board of Trade uma roda de negociação [trading pit] utilizada ao longo de décadas na compra e venda de milho e de contratos futuros referentes ao milho. O dispositivo seria descartado pela empresa como parte de sua passagem definitiva às transações digitais. O trio passa a pesquisar a história da roda de negociação e os processos abstratos e concretos de circulação que o envolvem. Em 2020, eles realizam Repose [Repouso] (2020), escultura instalada no jardim do Arts Club of Chicago (EUA). Composta por fragmentos de madeira recortada que se entrelaçam em padrões reminiscentes do piso geométrico do Board of Trade, Repose se refere à desaceleração das transações que ocorriam no pit anteriormente e a suspensão temporária de sua função como roda de negociação. A escultura remete ainda às caixas para transporte de obras de arte e ao outro circuito no qual o dispositivo foi incorporado.
Como continuidade de seu trabalho com o resgate da roda de negociação, De Paula, Benedict e Rueter apresentarão deposição (2020) pela primeira vez na 34ª Bienal de São Paulo. A roda de negociação da Chicago Board of Trade será remontada no Pavilhão Ciccillo Matarazzo e servirá como uma plataforma para encontros públicos de várias naturezas, concebidos para discutir e enfatizar a atmosfera de reunião e confronto que a própria estrutura instaura. Os artistas preveem para a roda um ciclo de aparições em instituições culturais ao longo da próxima década, com o intuito de promover discussões balizadas pelas distintas visões políticas, sociais, artísticas e filosóficas que podem emanar do objeto.
Apoio: Graham Foundation for the Advanced Studies in Fine Arts, Resource Center (Chicago, IL), University of Oregon, Oregon Arts Commission e Ford Family Foundation.
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Caroline A. Jones, Eyesight Alone: Clement Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
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Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).