Olivia Plender (1977, Londres, Reino Unido) é uma artista cujo trabalho se baseia em projetos de pesquisa histórica, nos quais analisa modelos pedagógicos e movimentos revolucionários, sociais, políticos e religiosos ocorridos durante os séculos 19 e 20. Plender procura suas fontes tanto em arquivos institucionais como na literatura e nas narrativas anônimas e populares. Ela utiliza esses recursos para produzir instalações, vídeos e histórias em quadrinhos expandidos na atualidade, com o intuito de desmascarar e entender as estruturas hierárquicas e os protocolos sociais vigentes. A artista não se interessa apenas pelos fatos históricos em si, mas também pela maneira como as histórias circulam e são transmitidas como mitos, fábulas ou boato. Nos últimos anos, ela tem investigado especialmente situações, processos e narrativas decorrentes de movimentos organizados por minorias sociais, sobretudo por associações socialistas e feministas. Embora tenha um fascínio especial por eventos passados, Plender está interessada em vivenciar essas ideias no presente, comparando as formas de participação social e, em última instância, buscando novas alternativas de coletividade e intervenção pública que transcendam os fundamentos do sistema neoliberal.
Em suas pesquisas em um arquivo feminista em Londres, Plender encontrou o roteiro da peça Liberty or Death [Liberdade ou morte] de Sylvia Pankhurst (c. 1913), uma das líderes do movimento sufragista feminino e uma das fundadoras do Partido Comunista no Reino Unido. Na documentação encontrada não havia registro sobre a publicação ou encenação da peça, inspirada nas lutas da Federação de Suffragettes do Leste de Londres para melhorar as condições de vida e de trabalho das mulheres. No vídeo Hold Hold Fire [Mantenha, mantenha o fogo] (2020) e em uma série de desenhos a lápis, Olivia Plender parte da peça de Pankhurst para discutir a situação atual em relação à violência doméstica, à disparidade salarial e à crise habitacional, especialmente na perspectiva de mulheres no Reino Unido. A artista realizou uma série de reuniões em centros comunitários com grupos de mulheres ativistas e, junto com um diretor de teatro, retrabalhou cenas e diálogos da peça de Pankhurst para torná-los atuais, com referência às políticas recentes do governo britânico, particularmente a lei de austeridade desde 2010 e o ambiente racista e hostil adotado pelo Departamento de Imigração. Em Hold Hold Fire, Plender filma um desses workshops, no qual são ensinadas estratégias de defesa pessoal a um grupo de mulheres. As estratégias baseiam-se nas lições de importantes grupos feministas ao longo da história. Os desenhos a lápis, também incluídos na exposição, são baseados em imagens de suffragettes sendo presas pela polícia. Em cada imagem, vê-se uma mulher individual no ato da prisão, por policiais homens. A repetição das imagens do ato do aprisionamento é utilizada para enfatizar a natureza contínua da luta política. Nas imagens as mulheres expressam sua individualidade, enquanto os oficiais da polícia parecem os mesmos e executam ações idênticas àquelas que, hoje, reprimem violentamente os protestos.
Apoio: British Council e Iaspis – the Swedish Arts Grants Committee's International Programme for Visual and Applied Artists
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Caroline A. Jones, Eyesight Alone: Clement Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
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Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).