Através de suas performances e instalações, Andrea Fraser (1965, Billings, Montana, EUA) busca estimular a consciência do público em relação à maneira como o sistema da arte participa diretamente das estruturas econômicas neoliberais. Conectada à chamada crítica institucional e ao feminismo, Fraser disseca e analisa a plutocracia e o mecenato no mundo artístico na perspectiva de uma ampla gama de agentes culturais, incluindo artistas, colecionadores, galeristas, patrocinadores e o próprio público. Para ela, o mundo da arte não é apenas o espaço da instituição, mas o campo das estruturas e relações sociais que se entrelaçam, nas quais todos estamos implicados. Em sua metodologia de trabalho típica, Fraser parte da análise do contexto específico no qual realizará a ação e, a partir daí, propõe ações diretas de confronto. Seja através de formatos discursivos como o seminário e a leitura pública de textos e de documentação, seja através da performance, Fraser cria situações frequentemente impregnadas de humor, nas quais encena as diferentes posições sociais em que ela própria está envolvida.
Reporting from São Paulo, I'm from the United States [Informando de São Paulo, sou dos Estados Unidos] (1998) é um vídeo resultante da performance desenvolvida por Fraser para a 24ª edição da Bienal de São Paulo, em 1998, como parte da seção da mostra dedicada aos Estados Unidos. O projeto adotou o formato de uma série de reportagens televisivas, nas quais a artista assumiu o papel de uma das repórteres da TV Cultura, entrevistando artistas, patronos e figuras políticas em torno da Bienal. A ideia era que essas reportagens pudessem ser veiculadas em âmbito nacional na TV Cultura, mas diante dos acontecimentos ocorridos no período – as eleições tumultuadas, as enchentes que assolaram o país e a crise econômica global – nunca foram transmitidas. A 24a Bienal, que teve curadoria do crítico brasileiro Paulo Herkenhoff, discutia o conceito estendido de antropofagia e canibalismo a partir de diferentes geografias e pontos de vista; preceitos que Fraser subordinou à própria trama da Bienal, sua forma de financiamento e relações internacionais, frutos de uma dependência neocolonial perpétua.
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Caroline A. Jones, Eyesight Alone: Clement Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
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Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).