Melvin Moti (1977, Roterdã, Holanda) trabalha principalmente com filmes 35mm, em geral mostrados em conjunto com fotografias, objetos e livros de artista. Sua prática está intimamente ligada à história e a sua narrativa. O que motiva seus filmes, livros e objetos de arte é o interesse pela imaginação dos espectadores e a desconstrução da história. Desse modo, Moti explora o não evento, e um fascínio pelo anedótico assinala seus trabalhos: detalhes e acidentes que ocorrem à margem de uma história que se quer unitária permitem ao artista revelar o poder do que ele define como “buracos negros”. Em seu filme No Show [Nenhuma exposição], por exemplo, Moti parte de um episódio historicamente irrelevante: uma visita ao Hermitage oferecida por um guia do museu a um grupo de soldados em 1943, em plena Segunda Guerra Mundial. O que torna a anedota fascinante é o fato de que, por precaução, todas as obras haviam sido retiradas das salas e guardadas em lugar seguro; apenas as molduras da extraordinária coleção de pinturas permaneciam nas paredes, como testemunho da importância de se manter pelo menos a memória das obras de arte.
Entre sombras e luzes, entre o visível e o imaginário, a prática de Moti recorre à pesquisa científica assim como ao testemunho subjetivo. Seus trabalhos buscam entender como os mecanismos da percepção funcionam neurológica e psicologicamente. Ele joga com as percepções do público – seus filmes, imagens e sons procuram fazer emergir um terceiro espaço, que nasce na mente do visitante. Cabe aos visitantes criar suas próprias narrativas, enquanto o artista os convida a reaprender a ver. Para Moti, não se trata de acumular informação, mas de desconstruí-la.
Cada dimensão de sua investigação recente – que abrange a esfera da percepção sensorial (especialmente como resultado da privação sensorial), a redução como abordagem artística (sobretudo em museus vazios) ou ainda a não-produção como forma de resultado criativo – é pesquisada de maneira elaborada, por meio de um acúmulo de recursos que posteriormente compõe a base dos textos do artista, os quais constituem parte essencial de sua prática. Esses ensaios experimentais são reproduzidos em livros de artista autopublicados, que acompanham cada filme.
Apoio: Mondriaan Fund
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Caroline A. Jones, Eyesight Alone: Clement Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
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Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).