Jacqueline Nova (1935, Gante, Bélgica – 1975, Bogotá, Colômbia) é pioneira da música eletroacústica na Colômbia e uma das mais importantes compositoras experimentais da América Latina no século 20. Filha de mãe belga e pai colombiano, mudou-se para Bucaramanga (CO) ainda na primeira infância e cresceu em um período muito violento da história do país, conhecido como La Violencia ("A Violência"), marcado por guerrilhas populares, lutas pelo acesso à terra e pelo conflito entre os dois principais partidos políticos que disputavam o poder. Nova iniciou sua educação musical aos sete anos, com aulas particulares de piano e, aos vinte anos, mudou-se para Bogotá, onde ingressou no Conservatório da Universidade Nacional, em 1958 – inicialmente para estudar piano e, em 1964, decidiu começar formalmente o curso de composição.
Nova contribuiu para quebrar a tradição que confinava a mulher aos papéis de intérprete ou de musa, tornando-se a primeira mulher formada em composição musical na Colômbia e iniciando uma profunda pesquisa sobre o uso de novas tecnologias na música. Compôs, em 1966, a peça Doce móviles, na qual já apresentava suas inquietudes sobre as dimensões espaciais do som e sobre o serialismo livre, anunciando seu interesse pela música eletroacústica. Entre 1967 e 1969, a compositora estudou no proeminente Centro Latinoamericano de Altos Estudios Musicales (CLAEM), do Instituto Torcuato di Tella, em Buenos Aires (Argentina), onde teve contato com importantes compositores de vanguarda, como Gilbert Amy, John Cage, Luigi Nono, Vladimir Ussachevsky, Gerardo Gandini, Alberto Ginastera e Francisco Kröpf. Aproveitando da infraestrutura e dos equipamentos disponíveis no CLAEM, Nova aprofundou-se no universo da música eletrônica, em busca de novos sons e procedimentos composicionais e interdisciplinares e passou a se interessar cada vez mais pelos limites entre o ruído e a voz humana, e pelas implicações políticas por trás da inteligibilidade da fala.
Ao retornar à Colômbia, em 1969, Nova militou pela música de vanguarda em seu país e teve importante atuação como agente cultural em um contexto repressivo, tornando-se uma referência para compositores interessados na escrita musical contemporânea. Em algumas de suas produções dessa época, Nova mesclou ruído eletrônico, instrumentos orquestrais e vozes indígenas, criando uma música híbrida e que revisa radicalmente as normas musicais. É o caso de Creación de la tierra [Criação da terra] (1972), provavelmente sua obra mais conhecida, na qual a compositora entrelaça o interesse pelas transformações eletrônicas da voz com a busca por uma ideia quase mítica de ancestralidade. Nova incorpora na composição cantos da etnia indígena colombiana u’wa sobre a criação da terra e os distorce e modifica eletronicamente, de certa forma aludindo à impossibilidade de uma tradução ou apropriação linear de uma cultura por outra.
A versão de Creación de la tierra apresentada em Vento e na 34ª Bienal foi concebida por Ana María Romano G.
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Caroline A. Jones, Eyesight Alone: Clement Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
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Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).