Em sua prática, Clara Ianni (1987, São Paulo, SP) explora a relação entre a materialidade do espaço e suas formas de representação. Seus trabalhos têm como campo de referência a história do Brasil, de sua formação colonial aos recorrentes ciclos autoritários, frequentemente questionando o que se entende por modernização. Muitas de suas obras tomam essa história como um campo de disputa cujos documentos e narrativas se encontram no tempo presente para elaborar futuros possíveis. Atenta para os modos como o poder regula o que é reconhecido como fato e o que é relegado ao campo dos boatos ou à marginália das notas de rodapé, trabalha com vozes e acontecimentos dissonantes, promovendo fricções entre discursos oficiais e possibilidades de outras enunciações. Essa operação constitui uma prática interdisciplinar que resulta em ações, instalações, vídeos, objetos e conjuntos gráficos de caráter ensaístico.
Para realizar o vídeo Repetições (2017-18), por exemplo, a artista convidou o ator Izaías Almada para trazer ao presente os ecos da peça Arena conta Zumbi, escrita por Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal e encenada pelo Teatro de Arena em 1965. Por meio de exercícios teatrais e reminiscências, o ator, que havia participado da montagem inicial, retorna ao teatro sede do grupo e reencena fragmentos de um enredo que recuperava a luta por liberdade dos escravizados como alegoria para a luta revolucionária da geração daquele momento, que se confrontava com as violências da ditadura militar e das relações alienantes de trabalho.
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Caroline A. Jones, Eyesight Alone: Clement Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
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Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).