Os anos de formação de Regina Silveira (1939, Porto Alegre, RS) se deram entre Porto Alegre e Madri, mas foi a partir de 1969, quando viveu em Porto Rico, que desenvolveu os primeiros exercícios que delinearam o cerne de sua obra. Convidada a implantar um modelo experimental de ensino na Universidade de Porto Rico, Silveira experimentou intensamente técnicas gráficas de reprodução de imagem e participou de um ambiente em que se debatia a arte como território de circulação de imagens, discursos e sistemas ideológicos de representação. De volta ao Brasil em 1973, Silveira continuou em São Paulo sua prática docente comprometida com metodologias contemporâneas de criação e, como artista, consolidou-se como uma das principais investigadoras das especificidades das linguagens e dos meios técnicos.
Inúmeras das obras de Silveira colocam em questão os limites da representação e da percepção visual. Para isso, a artista estuda como o aparato óptico processa o que vemos e como o desenho pode manipular esses processos, dilatando-os, distorcendo-os ou levando-os ao absurdo. Nesses exercícios, é comum que os pontos de partida sejam ícones facilmente reconhecíveis – escadas, labirintos, sombras – que se transformam por operações de permutação e por inserções em imagens fotográficas, em sistemas de representação ou diretamente no espaço arquitetônico.
O conjunto Dilatáveis foi desenvolvido por Regina Silveira no contexto de sua pesquisa de doutorado na ECA-USP, intitulada Simulacros. Na série, a artista apropriou-se de fotografias retiradas de impressos de grande circulação e as reproduziu em alto-contraste, utilizando a heliografia em sua versão original, hoje perdida. Inaugurando o uso de projeções distorcidas pelo exagero das variáveis da técnica de perspectiva, que nas décadas seguintes se tornaria um de seus âmbitos recorrentes de experimentação, Silveira construiu, a partir das figuras, sombras desproporcionadas, carregando-as de conotações simbólicas. Assim, a artista enfatizava o peso de signos icônicos da vida política e cultural brasileira da época (mas ainda plenamente vigentes) e materializava sua presença opressiva no imaginário da nação, apontando ainda o sentido ameaçador que as promessas de felicidade, progresso e ordem assumiam ao se tornarem lemas incontornáveis, eixos da propaganda do regime ditatorial em vigor no Brasil naqueles anos.
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Caroline A. Jones, Eyesight Alone: Clement Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
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Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).