Giorgio Morandi (1890–1964, Bolonha, Itália) é considerado por muitos o maior pintor italiano e, de uma maneira mais geral, um dos mais influentes artistas do século passado. A sua pintura se limita a uma gama bastante reduzida de temas, como as vistas do povoado de Grizzana ou as célebres naturezas-mortas de garrafas e potes, pintadas com mínimas variações ao longo de décadas. Morandi morou a vida inteira, com suas três irmãs, no pequeno apartamento de Bolonha onde nascera; ensinou gravura por quase trinta anos na Academia de Belas Artes local; passou todos os verões, desde 1913 até a morte, em Grizzana. Sua biografia previsível e metódica constitui, de certa forma, o melhor contraponto das pinturas, em que os objetos e os motivos se repetem até o tédio, como diriam seus detratores, ou até tornar tangíveis tanto os objetos em si, quanto tudo que se reflete neles: as sutis mudanças na luz da tarde, a poeira que se deposita nos objetos, a passagem do tempo que se faz visível na própria matéria das garrafas que reaparecem uma e outra vez, quadro após quadro, ano após ano...
Na história das artes visuais do século 20, Morandi ocupa um lugar especial como expoente destacado de uma linhagem de artistas (mas também escritores, músicos ou diretores de cinema) cuja obra se impõe, num mundo cada vez mais cacofônico e ruidoso, pela reiteração silenciosa, a parcimônia, a simplicidade. A pintura de Alfredo Volpi, o cinema de Yasujirō Ozu ou a poesia de João Cabral de Melo Neto são exemplos de produções afins à de Morandi, em que as coisas se apresentam pelo que elas são, como se isso fosse simples. Afinal, como o artista disse uma vez ao seu amigo, o escritor italiano Giuseppe Raimondi, seus quadros são feitos das “mesmas coisas de sempre. Você as conhece. São sempre as mesmas. Por que deveria mudá-las? Funcionam bastante bem, você não acha?”.
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Caroline A. Jones, Eyesight Alone: Clement Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
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Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).