Os filmes de Philipp Fleischmann (1985, Hollabrunn, Áustria) constituem um raro exemplo de obra que consegue ser ao mesmo tempo eminentemente física, ou “concreta”, como ele mesmo diz, e puramente conceitual. Inspirado pelos grandes nomes do cinema estruturalista austríaco, como Peter Kubelka, Kurt Kren e Peter Tscherkassky, Fleischmann terminou subvertendo a visão de cinema desses realizadores, que ainda tinha como elemento central o fotograma. Partindo da consideração de que o fotograma não é inerente à película, mas apenas o rastro da passagem dessa película pela câmera cinematográfica convencional, Fleischmann desenvolveu um tipo de câmera inteiramente novo, que permite expor a película em sua extensão total com um único gesto, abolindo o fotograma.
Na visão do artista, as câmeras convencionais carregam “uma concepção muito clara de como a realidade deveria ser transmitida e representada. Queria me livrar do fotograma, porque ele representa um elemento essencial de operações de representação e organizações políticas com que não concordo em absoluto”. É nesse sentido que a prática de Fleischmann é física, pois tem como ponto de partida ineludível a própria fisicalidade da película, mas é também eminentemente teórica, porque explicita seu potencial crítico. Coerentemente com isso, o artista tem se concentrado em representar, em seus filmes, quase exclusivamente a arquitetura de icônicos espaços culturais, confirmando a afinidade intelectual da sua prática com a tradição da arte conceitual, que teve na crítica do cubo branco um de seus motivos recorrentes. Após retratar espaços tão diversos como a Secessão de Viena e o Pavilhão austríaco na Bienal de Veneza, na obra comissionada pela 34ª Bienal Fleischmann responde à arquitetura do Pavilhão Ciccillo Matarazzo criando sua obra de maior respiro, na qual percorre o edifício desde o térreo, rodeado pelo parque Ibirapuera, até a sua cobertura.
A artista conversou com o público da Oficina Cultural Oswald de Andrade no dia 9 de novembro de 2019. Confira:
Apoio: Phileas – A Fund for Contemporary Art and Federal Ministry Republic of Austria – Arts, Culture, Civil Service and Sport
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Caroline A. Jones, Eyesight Alone: Clement Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).
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Greenberg’s Modernism and the Bureaucratization of the Senses (Chicago: University of Chicago Press, 2005).